O emprego do exército na ocupação
das favelas do Rio
A pedido do JSeg, fui escrever sobre a atual ocupação
do Exército no morros do Rio. Espero que vocês possam achar
interessante
Por Vinícius Domingues Cavalcante
A intervenção das Forças Armadas nos negócios do Tráfico de Drogas no
Rio de Janeiro deixou-nos com a grata impressão de que vivíamos um
marco de novos tempos. Com o otimismo dos discursos políticos nas
esferas municipal, estadual, federal e a entusiástica cobertura da
mídia, dando conta de que as Forças do Bem estavam vencendo a guerra,
a população do Rio de Janeiro se acostumou à idéia simplista de que a
criminalidade havia encerrado o seu ciclo de dominação nas áreas do
Complexo do Alemão.
A mecânica de funcionamento do tráfico de drogas e da criminalidade em
geral, pressupunha dominar as comunidades sob sua esfera de influência
impondo-lhes sua vontade, infundindo o temor quer no morro ou no
asfalto e ocupar todos os espaços que o poder público lhe cedesse.
As quadrilhas dividem as áreas carentes em feudos e o cidadão acossado
sempre viu o concurso da força militar federal como a única forma
lembrar a todos que ainda existiriam forças muito maiores que a dos
traficantes.
Há muito se sabia que, na prática, não era o Estado quem mandava nos
morros e isso levou à adoção das Unidades de Polícia Pacificadora
(UPP); todavia, dado o grande quantitativo e poderio bélico dos criminosos
havia locais onde a polícia não poderia ocupar, senão com risco de
muitas baixas.
Na tomada Complexo do Alemão, o suporte das Forças Armadas foi um
fator chave para o êxito da operação; contudo, como o quantitativo de
policiais para uma ocupação permanente ainda não está disponível,
decidiu-se que os militares do Exército permanecerão diretamente no
policiamento das áreas liberadas do tráfico, até que a PM tenha
efetivos em condições de assumi-lo...
... É minha opinião pessoal que combater o crime nos
morros seja tarefa usual para polícia e que o Exército foi posto numa
furada, ao estilo do velho “vai lá e lá e dá o seu jeito”.
Como um entusiasta do Verde-Oliva que sou, eu torço para que ele
conclua a sua missão com êxito e sem qualquer mácula. Espero que, as
mesmas autoridades que mandaram o Exército para os morros cariocas,
acordem para o fato de que faltam às nossas Forças Armadas os recursos
para a aquisição de armas modernas, equipamentos, munições,
combustível, para treinamento; que não há verbas sequer para a
manutenção dos meios existentes e daí não há o que se estranhar que
navios avariados permaneçam sempre nos portos, os poucos aviões
disponíveis voem menos do que o necessário e que aeronaves e viaturas
sejam “canibalizadas” a fim de manter outras poucas em operação
regular.
Vinícius Domingues Cavalcante, CPP é consultor em segurança.
O artigo foi escrito para o Jornal da Segurança. Obrigado!